"Barrel of a Gun”

Postado por Rafael em

Cada um de nós deve encontrar sua noção de permitido e proibido. Tudo não passa de uma questão de comodidade. Há aqueles que acham mais cômodo não ter que pensar por si mesmos e serem seus próprios juizes, então se submetem às proibições vigentes; acham isso mais simples. Mas há outros que sentem em si mesmos a própria lei, e consideram proibidas certas coisas que os homens de bem perpetram e a todo instante permitem outras sobre as quais recai uma geral interdição.

Qual a sua opinião à respeito da história da Marca de Caim? Crê que tal marca é um símbolo maléfico? Há quem creia que é um símbolo de... liberdade.

Exemplificarei: Segundo a Bíblia, Caim matou Abel por inveja. Caim representa o homem rebelde (o que sente em si a própria lei), enquanto Abel era o bom homem. E nesta relação podemos adotar outra interpretação diferente da bíblica:

Digamos que Caim e Abel não existiram realmente; eles representavam grupos polarizados. Consideremos que a relação de irmandade religiosa é deveras abrangente, de forma que todo assassínio é um crime entre "irmãos". Mas segundo estas suposições, o que representaria tal história (ou estória) então? Simples:

Os ditos covardes não conseguiam viver sem a comodidade da submissão, já os Caims aceitavam as normas sociais, além de usar a própria definição de certo e errado. Algo audacioso.

Creio que em certo ponto os submissos começaram a se indagar: “Já que eles não são corretos por que não são punidos?” E após muito pensarem, "descobriram": Acontece que estes que vivem fora do senso comum (Caim, no caso) não mereciam contato com os homens de bem, que eram a classe ideologicamente dominante. Eles mereciam marginalização. Bom, também podemos ser mais sinceros e diretos: "Nós, homens de bem, tememos estes 'Cains'... então decidimos sair de perto deles!"

Acredito que o que eu queria expor ficou claro. Ao menos para mim... O que não é nada convincente. Então:

Há pessoas que escolhem usar a própria lógica para decidir o que é correto. Mas as outras pessoas, que sofrem todo tipo de privações esdrúxulas, não conseguem aceitar isso. De forma que os que não estão de acordo com o consciência comum e vigente sofrem ostracismo.

Não há sentido em várias privações, as quais a "classe dominante" sucumbe atualmente. Não vejo a igreja como "privação", mas não preciso ir à uma para falar com Deus: se Ele está em todos lugares, porque eu iria à um espaço físico, que não obstante é corrompido?

Eu sei que existem pessoas que precisam destas normas questionáveis. Mas se sou capaz de raciocinar por que não expressar minha opinião livremente?

Mas como disse antes: cada um deve achar seu conceito de certo ou errado; escolher entre pensar e assumir a responsabilidade de seus atos, ou submeter-se à outras normas, de forma que qualquer erro poderá ser delegado à outrem.

PS: Não, não sou ateu. Sou cristão – mas para mim isso não significa que tenho que aceitar todas as proibições dogmáticas as quais tentam me submeter.


Inspirado em Demian de Hermann Hesse.

Comentários (2)

    Sim, o que é o certo e errado sem um pré-conceito. A sociedade entitula "os certos e os errados". Vai de cada um aceitar isso como regra.O meio e a bagagem emocial fazem toda a diferença.

    POde-se perceber isso através das zilhões de culturas que existem, inclusive num mesmo país.

    O absurdo dessa história é enxergar que nós dependemos das opiniões alheias para o nosso "correto". Pricipalmente quem se considera fora do padrão, pois fica mais ligado ao redor para tentar ser "diferente". Acaba sendo mais uma vítima.

    Certamente Deus está em todos os lugares. Não é obrigatório ou moralismo frenqüentar igrejas e afins. Sim, é uma opção. Eu vejo como uma oportunidade de trocar idéias sobre Ele e a Palavra. è como ir para o lado de não fumantes do restaurante: São as pessoas que tem um escolha em comum.É agradáve,mas não dever.
    Minha espiritualidade não depende de lá nem de tudo que me dizem ser Sua vontade. Eu ouço, reflito e tiro a parte com que eu concordo.

    Mas o que somos nós além de reflexos da moral, da época, do certo & errado?

    Esta história de Caim e Abel é realmente muito interessante...
    Há quem diga que é uma espécie de analogia ao extermínio do Homo Neanderthalis pelo Homo Sapiens.
    Não sei se procede, mas de qualquer forma, é um modo peculiar de ver a coisa.
    Segundo alguns historiadores, estas duas espécies coexistiram em algum lugar do passado.
    Ambas as espécies faziam ferramentas complexas, podiam falar, faziam abrigos e viviam em sociedade. Em suma, eram os animais mais descolados da época.
    O grande entrevero surgiu pelo fato de que o Homo Sapiens seria adepto do som pesado, da cachaça e de muita briga, enquanto o Homo Neanderthalis já seria mais simpatizante da bossa nova, da smirnoff ice, e da hatha ioga, a fim de preencher seu volume encefálico levemente maior.
    De qualquer forma, a história conta aquele lance de sempre, sabe como? Cara malvado versus cara bonzinho...
    Até aí tudo bem. Esse conceito ainda é muito utilizado em cerca de 100% das novelas, filmes da sessão da tarde, e tantas outras sandices que assolam o mundo.
    A grande merda é que no final desta história, ao contrário do que estamos acostumados a ver, o cara malvado mata o cara bonzinho. Um final extremamente atípico...
    E o pior de tudo: O resultado disso, é que todos nós descendemos do cara malvado. O que posso dizer? Lamentável.
    De qualquer forma, minha posição nesse assunto é bem clara: Antes no do Homo Neanderthalis do que no meu. Se for pra alguém ser exterminado, que seja ele.
    É uma história com final dramático (ao menos para o cara bonzinho), mas que remete à outra grande máxima dum cara barbudo que diz:
    “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
    E foi assim que pela primeira vez na história humana, a força bruta ganhou da inteligência.
    Dizem as más línguas, que de lá pra cá não houve nenhuma mudança substancial no processo, e que o tal Homo Sapiens não pretende largar o osso tão cedo.
    Mas o mundo é assim mesmo.
    C'est la vie, meu chapa... C'est la vie...